sábado, 28 de outubro de 2017

A estrada do Rock

A longa estrada do rock é pontuada por enigmáticas criaturas.
Vou escrever sobre a história do Rock, desde os primórdios se pararmos para olhar um pouco atrás e refletir sobre os escombros dos pilares mais sólidos do Rock, estarão lá nas primeiras fileiras, todos, assentados lado a lado, contemplando o tempo e ensinando, e todos eles conservaram em si um tipo de brilho eterno, brilho astral, como frequências ...não quero falar muito sobre isso...mas bem, nas primeiras fileiras estão lá, sempre estiveram lá, sempre estarão lá...Robert Johnson, a pedra angular, o primeiro assentamento que se tem noticia, já falei e repito ...vivo repetindo isso...é tão fofo...eu particularmente não creio no diabo, não crio que existam seres voltados perpetuamente para o mal...mas bem...voltando a história do Robert Johnson...é uma fábula e não poderia ser diferente...pode ser que esteve na tal encruzilhada e fez o que teve que fazer mas eu particularmente acho que são lendas...mas eu adoro as lendas...eu próprio já sou uma lenda hehe....eu escrevi "Suave é a noite" e isso ninguém nunca vai conseguir me tirar...sou eu ali...como um pastor pregando para as minhas ovelhas...ovelhinhas tortas e dissimuladas hehe...bem...sempre estiveram lá... Hank Willians, Elvis, Johnny Cash, Buddy Holly, Bob Dylan, Johnn Lenon, Muddy Watters, Jim Morrison, Loou Reed, Kurt Cobain, o Raul, Jack White né...um branco com alma de negro e até mesmo o Tom Yorke...tem nele um tipo de brilho cósmigo...mas enfim.. e tantos outros...enfim....todos eles com suas excêntricidades e suas peculiaridades...todos carregando dentro de si um tipo de sabedoria a contemplar e a ensinar, hoje fez um dia tão abafado, me esqueci do mestre maior...o Brian Wilson.
Vivo repetindo isso que vou ensinar hehe, eu sou o máximo!, é sério isso, me acho o tal, o maioral, nada se compara a mim, sou algo sobre humano hehe...bem...isso é um truque, é apenas um trupe, um disfarce para eu poder ter a minha vida, não adianta nada eu falar que não quero que me procurem...não adianta nada...eu preciso ficar só para poder estudar as coisas que eu quero estudar, para fazer as coisas que eu quero fazer, não tem lugar pra ninguém, ...a noite me despeço de minha esposa com um beijo e me dirijo para meu quarto para em silêncio a meia luz me debruçar sobre meu mundo particular...livros..e livros...vou começar a tradução de um livro de um poeta que gosto tanto e não encontro os poemas dele por ai, não existem traduzidos e eu vou traduzir cerca de mil poemas e canções e enfim...será um trabalho grandioso e eu sei me manterá ocupado e eu sei me manterá bem e em paz...vivo repetindo isso..que o mundo exterior já não importa mais, que devemos ter classe e educação com a gente mesmo, devemos ser refinados o tempo todo devemos nos respeitar primeiramente, a gente precisa gostar de estar na companhia da gente mesmo...quando as pessoas encontrarem isso, todo o mundo ao redor ficará em segundo plano...mas enfim...estar bem comigo mesmo significa...para mim...fazer as coisas que gosto, sendo um poeta sou forçado a agir segundo a minha natureza e me comportar como tal, apesar de eu não escrever poemas...quero dizer ...eu vivo como um, "A vida é um poema".
Às vezes me pego olhando o horizonte e contemplando o nada...às vezes me sinto triste.
Bem voltando a história do Rock...tenho a pretenção de escrever sobre os descaminhos do Rock hehe.., se não eu quem...quem?

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Charles Baudlaire


  O Morto Prazenteiro

Onde haja caracóis, n'um fecundo torrão,
Uma grandiosa cova eu mesmo quero abrir,
Onde repouse em paz, onde possa dormir,
Como dorme no oceano o livre tubarão.

Detesto os mausoléus, odeio os monumentos,
E, a ter de suplicar as lágrimas do mundo,
Prefiro oferecer o meu carcaz imundo,
Qual precioso manjar, aos corvos agoirentos.

Verme, larva brutal, tenebroso mineiro,
Vai entregar-se a vós um morto prazenteiro,
Que livremente busca a treva, a podridão!

Sem piedade, minai a minha carne impura,
E dizei-me depois se existe uma tortura
Que não tenha sofrido este meu coração!

Charles Baudelaire, in "As Flores do Mal"
Tradução de Delfim Guimarães

 

Spleen

Quando o cinzento céu, como pesada tampa,
Carrega sobre nós, e nossa alma atormenta,
E a sua fria cor sobre a terra se estampa,
O dia transformado em noite pardacenta;

Quando se muda a terra em húmida enxovia
D'onde a Esperança, qual morcego espavorido,
Foge, roçando ao muro a sua asa sombria,
Com a cabeça a dar no tecto apodrecido;

Quando a chuva, caindo a cântaros, parece
D'uma prisão enorme os sinistros varões,
E em nossa mente em frebre a aranha fia e tece,
Com paciente labor, fantásticas visões,

- Ouve-se o bimbalhar dos sinos retumbantes,
Lançando para os céus um brado furibundo,
Como os doridos ais de espíritos errantes
Que a chorar e a carpir se arrastam pelo mundo;

Soturnos funerais deslizam tristemente
Em minh'alma sombria. A sucumbida Esp'rança,
Lamenta-se, chorando; e a Angústia, cruelmente,
Seu negro pavilhão sobre os meus ombros lança!

Charles Baudelaire, in "As Flores do Mal"
Tradução de Delfim Guimarães




A Beatriz
Charles Baudelaire



Num solo hostil, crestado e cheio de aspereza,
Enquanto eu me queixava um dia à natureza,
E de meu pensamento ao acaso vagando
Fosse o punhal no coração sem pressa afiando,
Em pleno o dia eu vi, sobre a minha cabeça,
Prenúncio de borrasca, um nuvem espessa,
Trazendo um bando de demônios maliciosos,
Semelhantes a anões perversos e curiosos.
Entreolham-se a mirar-me, aguda e friamente,
E, como o povo que na rua olha um demente,
Eu os via rir, entre si cochichando,
Piscando os olhos e também sinais trocando:

“Contemplemos em paz essa caricatura
que do fantasma de Hamlet imita a postura,
Os cabelos ao vento e o ar sempre hesitante.
Não causa pena ver agora esse farsante,
Esse idiota, esse histrião ocioso, esse indigente,
Que seu papel de artista ensaia à nossa frente,
Querer interessar, cantando as suas dores,
Os grilos, os falcões, os córregos e as flores,
E mesmo a nós, que recebemos esses prólogos,
Aos berros recitar na praça os seus monólogos?”

Com meu orgulho sem limite, eu poderia
Domar a nuvem dos anões em gritaria,
Deles desviando a fronte esplêndida e serena,
Caso não visse erguer-se em meio à corja obscura
— Crime que até a luz do próprio sol abala! —
A deusa a cujo olhar outro nenhum se iguala,
Que com eles de minha angústia escarnecia
E às vezes um afago imundo lhes fazia.

(trad. de Ivan Junqueira)
                                                                                       



ORAÇÃO
Glória e louvor a ti, Satã, nas amplidões
Do Céu, em que reinaste, e nas escuridões
Do Inferno, em que, vencido, sonhas com prudência!
Deixa que eu, junto a ti, sob a Árvore da Ciência,
Repouse, na hora em que, sobre a fronte, hás de ver
Seus ramos como um Templo novo a se estender!

A morte dos amantes
Teremos leitos só rosas ligeiras
Divãs de profundeza tumular,
E estranhas flores sobre prateleiras,
Sob os céus belos a desabrochar.
A arder de suas luzes derradeiras,
Nossos dois corações vão fulgurar,
Tochas a refletir duas fogueiras
Em nossas duas almas, este par
Gêmeos espelhos. Por tarde mediúnica,
Nós trocaremos uma flama única
Um adeus que é um soluço tão cruel;
Pouco depois, um anjo abrindo as portas,
Virá vivificar, o mais fiel,
Os espelhos sem luz e as chamas mortas.

Remorso póstumo Quando fores dormir, ó bela tenebrosa
Num negro mausoléu de mármores, e não
Tiveres por alcova e morada senão
Uma fossa profunda e uma tumba chuvosa;
Quando a pedra, oprimindo essa carne medrosa
E esses flancos sensuais de morna lassidão,
Impedir de querer e arfar seu coração
E teus pés de seguir a trilha aventurosa,
O túmulo que tem seu confidente em mim
– Porque o túmulo sempre há de entender o poeta –,
Na insônia sepulcral destas noites sem fim,
Dir-te á: “De que te serviu cortesã incompleta,
Não ter tido o que em vão choram os mortos sós?”
– E o verme te roerá como um remorso atroz.